quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Releitura de “O Primo Basílio” por Cássia Aline Nunes Afonso





   Ensinar literatura implica desenvolver habilidades de leitores proficientes, ou seja, cidadãos que tenham habilidades não só de ler, mas de compreender e interpretar os diferentes gêneros e tipologias textuais, escritos em diferentes modalidades da língua.

   A atividade de releitura, segundo POSSAMAI e SARDAGNA, 2008, p. 70, é entendida como reprodução/reformulação do sentido dado a um texto/fonte para a produção de um texto derivado.

   Nesta postagem você observará uma releitura da obra “O Primo Basílio” de Eça de Queirós.
A atividade foi desenvolvida com os alunos da 2ª série do Ensino Médio “A” no período matutino, sob a orientação da professora Lucivani Cervieri, na disciplina de Língua Portuguesa/Literatura.
Profª. Lucivani Cervieri

O Primo Basílio


Luísa acordou, com o sol cegando-a, jogou o travesseiro na cabeça para cobrir os olhos, mas de nada adiantou. Virou para o lado, olhando a hora no despertador, passava das dez da manhã. Jorge já deve ter ido trabalhar, pensou ela. Luísa era uma mulher linda, cara de anjo, corpo esbelto e um olhar hipnotizador, tinha todos que queria na sua mão, mas enganava-se quem só olhava aquela fachada, era fria e cruel por dentro.
— Joana traga meu café da manhã, imediatamente! - Gritou Luísa.
Joana era a empregada da casa, sofria muito na mão da patroa, mas precisava do emprego para ajudar sua mãe nas despesas de casa, então ficava calada.
—Bom dia  Madame! Como passou a noite ?  - Perguntou  a empregada adentrando o aposento.
— Não é de seu interesse, saber como passei a noite, sirva já meu café! - Bradou  Luísa.
A empregada estava lhe servindo o café quando a campainha tocou.
— Vá atender logo essa porcaria, antes que me dê dor de cabeça, Joana.
— Sim senhora.
Quem tocava a campainha era nada mais nada menos que Juliana Maçaneta, uma velha conhecida de Luísa, as duas tiveram praticamente uma história juntas. A empregada atendeu a porta, e deu de cara com Juliana.
— A dona Luísa se encontra?  - Pergunta  Juliana
— Sim, ela se encontra, espere um momento vou chamá-la. Por favor entre e sente-se. - A empregada falou.- Como é bonita essa mulher ! Mas esqueci de perguntar o nome dela.
—Dona Luísa, há uma senhorita que deseja falar com você. - Disse Joana, batendo na porta do quarto da patroa.
— Como é o nome dela, inútil?- Fala uma Luísa muito brava, por estar sendo interrompida, na hora de se embelezar.
— Ela não falou senhora.
— Como você deixa entrar alguém que você não conhece, e não pergunta o nome? Deixe pra lá, você não serve pra nada, vou lá ver quem é.
Na sala, Juliana observava a casa de sua ex-colega:
_ Essa desgraçada vive muito bem!- Pensou ela.
— Olá!Quem é a senhora? -Perguntou Luísa
— Ora Luísa, não reconhece mais as velhas amigas?- Disse Juliana virando-se para frente.
_Como ela me achou?- Pensou uma Luísa, com muita raiva e medo, do que podia acontecer dali pra frente.
— Você faz parte da alta sociedade, é fácil lhe achar.
— O que você quer Juliana?
— Sempre objetiva você, Luísa não me surpreende você estar tão bem de vida em tão pouco tempo!
— Fale-me logo o que você quer. - Disse uma ríspida jovem senhora.
— Primeiro, olhe como fala comigo, segundo eu que faço as perguntas, terceiro eu quero tudo que é seu ,incluindo seu marido.
— Você acha que é quem, para falar assim comigo e querer tudo que é meu?
—Luísa, Luísa, sei de coisas que fariam as pessoas nunca mais olharem na sua cara.
— Virou chantagista? Está tão velha, que não consegue trabalhar!- Disse Luísa dirigindo um sorriso cínico à sua visita.
— Você vai fazer tudo o que eu mandar senão seu lindo esposo,  saberá de seus mais obscuros segredos.
— O que eu tenho, que fazer para você  sumir e nunca mais aparecer na minha frente, Maçaneta?
— Que bom que você sabe à hora de abaixar a crista, bom eu quero 350 mil dólares, depois quero seu marido, e tudo que você tem.
— Você tá louca, eu não tenho tudo este dinheiro, e muito menos dólares, e meu marido e minhas coisas você não terá.
— Se você me arranjar o dinheiro, eu sumo daqui, e seu marido nunca vai saber nada de você.
— Está bem, vou arrumar seu dinheiro, mas preciso de tempo. - Disse Luísa sentada no sofá depois de tamanho choque.
— Você terá tempo, mas não especificarei, na hora que eu aparecer, vou querer meu dinheiro. - Disse Juliana se olhando no espelho da sala.
— Era só o que você queria, pode ir agora.
—Sempre doce e agradável você Mademoiselle, vou-me indo, sei que você dará um jeito, até mais ver. - Disse Juliana se dirigindo a porta.
_ O que eu faço agora? Onde vou arrumar tanto dinheiro? Tenho que ir até o Paraíso e falar com Basílio! -Pensou Luísa, que levantou do sofá imediatamente, sem avisar para onde ia. Atrás dela um jovem detetive chamado Sebastião a seguia, a mando de Juliana e também de Jorge esposo de Luísa, ansioso para ver o que aconteceria dali pra frente.
O Paraíso ficava numa área longe da cidade consistia em quartos de cortiço, o lugar perfeito para o encontro de dois amantes, Luísa adentrou o local, abrindo a porta com a sua cópia da chave, encontrando Basílio esticado na cama. Esse traste no mínimo ficou até tarde jogando pôquer pensou Luísa, que já se despia e deitava-se sobre seu amante, que com o contato despertou.
— Queria ser acordado assim todos os dias. - Disse Basílio.
— Querer não é poder. -Disse Luísa com um sorriso travesso no rosto.
— De vez conversarmos podíamos fazer algo mais interessante. - Disse Basílio, mordiscando o pescoço de uma Luísa cada vez mais mole.
— Não vim aqui para isso, preciso conversar com você Basílio, é sério!
—Está bem! O que é?
— Juliana me visitou, e espere eu terminar de falar, ela me chantageou e quer 350 mil dólares, disse Luísa
— O que ela quer com tanto dinheiro, ela acha que na sua testa ta escrito sou uma agência bancária?
— É capaz de ela pensar isso mesmo, mas estou preocupada, onde vou arrumar tanto dinheiro?
— No banco!
— To falando sério, Basílio onde vou conseguir isto e sem chegar aos ouvidos de Jorge?
— Bom você deve frequentar estas festas da alta sociedade, conquiste um velho, e fala para te dar o dinheiro, falou Basílio com uma cara de quem tinha tido uma ideia genial.
— Até que não seria mal, mas ela me disse que pode querer o dinheiro a qualquer momento.
— Nossa tive um plano, vai abrir  uma nova joalheria, já que você é conhecida e visite, ouvi falar que lá tem um colar de diamantes, com um diamante azul, que vale uma fortuna.
— Como você sabe disso Basílio?
— Tenho meus contatos, são fontes confiáveis, é só nós armamos um plano bom, que conseguiremos, confie em mim e relaxe. - Disse Basílio fazendo uma massagem em Luísa.
Luísa voltou para casa de noite, menos preocupada com Juliana, graças a sua tarde maravilhosa, e Basílio e seus planos, já estava confiante, que sua vida, iria voltar aos eixos novamente.
Juliana estava num bar, esperando um amigo misterioso, que faria com que seus planos desse certo.
– E então, arranjou tudo como eu queria e pedia? -Disse Juliana
— Está tudo planejado, fique sossegada, logo tudo dará certo para nós, ela vai ter uma grande surpresa, relaxe!- Falou a pessoa misteriosa bebericando um uísque.
Na manhã do dia seguinte, Luísa acordou e passou o braço do outro lado da cama, e estava vazio. Sentia falta de Jorge ,ele era seu sol, a amava absurdamente, fazia com que esquecesse o passado, pena que não era suficiente, precisava de Basílio,ele a  fazia cometer loucuras e a levava as alturas.
— Que fome, irei tomar meu desjejum, e depois combinarei, todo o plano com Basílio. - Disse Luísa a si mesma.
Descendo as escadas, notou a casa silêncios.
_Onde será que está Joana, aquela imprestável? Só falta eu que estou com minhas unhas feitas, ter de preparar o desjejum! - Pensou Luísa.
Joana esperava sua patroa, e estava pronta para pedir demissão. - É a decisão certa. - Ela falava para si mesma.
— Joana sua inútil, porque ainda não preparou meu desjejum? Vou descontar do seu salário, ande criatura! Estou faminta! Fale alguma coisa sua imprestável.
— Madame, a partir de hoje, não sou eu que faço o desjejum, não sei quem vai ser, mas eu não serei,estou me demitindo.
— O que! Você não pode fazer isso comigo, e a casa; quem vai limpar as roupas, quem vai passar e lavar e cozinhar?
— Não sei senhora! Só sei que estou indo, até mais ver.
_ Maldita Juliana! Desde que me visitou só me fez ter perdas agora o que vou comer, eu sou uma bonequinha de luxo!- Pensou Luísa contrariada.
Juliana tinha seu plano arquitetado, teria as jóias de Luísa, que eram o marido e o amante, seria o que sempre nasceu para ser, uma Senhora. Já não cabia dentro de si, com tamanha felicidade de ver sua colega se arruinar.
_ A vingança é um prato que se come frio, mas é bom, muito bom.
De tarde Luísa, recebeu uma notícia que a chocou, seu marido que há um mês viajará, voltaria.
_ Logo agora que essas coisas estão acontecendo, que Deus me ajude! - Uma perplexa Luísa pensava.
— O plano é simples, é o dia da inauguração, todos vão estar ocupados, haverá muitas pessoas, será fácil você vai conseguir Luísa.
— Claro! E como vou colocar um colar raro dentro da minha bolsa sem ninguém perceber, Basílio?
—Aí não é comigo, já lhe dei o plano agora o faça, a não ser que você queria que o maridinho descubra nossos beijos, nossas carícias, nossas aventuras, nosso Paraíso. – Disse Basílio, abraçando e mordiscando a orelha dela.
— Pare Basílio! Pare por favor, tenho que ir para casa e pensar.
Jorge não se continha em si, estava ansioso para chegar em casa, ver sua linda esposa e amá-la, mas não foi isso que encontrou, só viu uma casa vazia, sem Luísa, sem empregada, só ele. Devem ter ido a feira e ficaram perdidas no meio de tantas coisas pensava Jorge.
Luísa chegou em casa, viu algumas coisas diferentes. _Deve ser Joana, não deve ter achado um emprego melhor e voltou, mas ela vai ver!- Pensou Luísa. Chegando em seu quarto, viu seu marido, deitado, dormindo como um anjo quase a fez esquecer os problemas, quase.
— Querida, acorde! Porque nosso desjejum não está preparado!- Cadê a Joana? - Disse Jorge.
— Bom dia, Meu amor! Nosso desjejum não está pronto, porque a ingrata da Joana pediu demissão. - Disse Luísa fazendo uma cara de coitada, que faria com que seu esposo contratasse outra empregada.
— Tudo bem, meu anjo! Vamos arrumar outra empregada, se arrume, vamos tomar  o desjejum em uma lanchonete. - Disse Jorge beijando a testa da esposa.
Luísa e Jorge passaram um dia perfeito, mataram as saudades um do outro, mataram as saudades um do outro, contaram o que fizeram, claro que Jorge observador  como era perguntou à esposa, a razão de estar triste, e está prontamente mentiu.
No dia seguinte, Luísa acordou preocupada, pois tinha que arrumar um meio de sair para falar com Basílio sobre o plano, mas precisava de uma desculpa para dar a Jorge.
Luísa levantou-se e preparou o desjejum, o marido acordou e reparou que a esposa não estava na cama e desceu as escadas,foi na cozinha e viu ela preparando suco, sorriu não poderia ter escolhido esposa melhor pensou ele.
— Querida, o ano de 1950, a década de 50, serão prósperos, você verá, tudo vai melhorar ainda mais, o povo confia em Juscelino Kubitschek eu confio nele.
— Que bom meu amor, que você é assim tão positivista.
— Luísa eu sou realista, olhe o que digo, o Brasil vai melhorar, nós vamos enriquecer mais e tentaremos ter outro filho.
— Que bom amor! Mas agora se alimente.
Luísa deu a desculpa que iria ao cabeleireiro, mas na verdade tomou um táxi e foi encontrar Basílio.
— Então meu anjo preparada para amanhã?
— Não sei, Basílio acho que não vou conseguir, vão acabar me pegando roubando essa jóia.
Luísa voltou para casa convicta que conseguiria executar o plano e salvaria o seu casamento, de noite saiu para jantar com o marido, fora fria com ele, logo percebeu que estava mostrando sua verdadeira face, era melhor assim.
Relojoaria  Paris:Avenida Florença, 549 dizia o endereço que cada vez mais pesava na bolsa de Luísa,era um lugar formidável a rua onde se localizava a relojoaria era uma das mais sofisticadas e movimentadas da cidade do Rio de Janeiro.O táxi parou o coração de Luísa congelou,agora era a tão esperada hora.
O salão era imenso, existiam os mais variados tipos de relógios e jóias, só pessoas de classe estavam naquele ambiente. O colar de Diamantes azuis era a peça mais cara daquele lugar, ele seria capaz de calar a boca de Juliana, mas é ai que a dúvida pairava: Ela vai me pedir mais dinheiro. Será que o meu segredo é tão forte que Jorge não suportaria? - Pensava ela.
Luísa estava de cara, com a jóia mais bonita e cara que já havia visto, ficou encantada, tanto que não percebeu que havia chegado alguém ao seu lado.
— Está jóia é a mais cara e a mais bonita igual a senhorita. Disse um senhor.
— Obrigada!
— Não agradeça minha cara é a verdade, que tal combinarmos um encontro, posso lhe dar a jóia.
— Muito obrigada! Mas sou casada. - Falou Luísa mostrando a aliança.
— Desculpe-me pela indiscrição minha bela senhora.
— Não foi nada Sr.
Agora sozinha era hora, fingindo estar olhando o chão, olhou para os lados, que a sorte esteja do meu lado, pensou ela, poderia ter aceitado sair com o Sr, mais vai que ele era igual ela, e estava só atrás de diversão. Pediu ao atendente mostrar-lhe a jóia, quando a pegou na mão sentiu um gostinho de vitória,distraiu o atendente dizendo ter visto a primeira-dama, aproveitou este momento, e substitui os diamantes por pérolas falsas, o atendente disse não ter visto ninguém, Luísa desculpou-se e disse ter se confundido, entregou a caixa com o colar errado, agradeceu o atendente, já sentindo o triunfo, pena que ao sair da loja, foi surpreendia por um bandido.
— Passa a bolsa, Madame, passa logo senão estouro seus miolos.
— Calma, por favor, eu te dou o dinheiro que eu tenho, mas a bolsa não! Você pode levar meu relógio.
— A bolsa, ou você morre, chega madame, fica com o relógio, eu só quero a bolsa.
— Tó, fica com ela então. - Disse Luísa
Agora estava perdida, iria ficar sem o marido, sem a casa, sem os mimos, mas ela tinha uma chance contaria a verdade ao marido.
Chegando em casa Luísa encontrou seu marido na sala, chamou ele para irem para o quarto conversar.
— Jorge preciso lhe contar algumas coisas sobre mim que você não sabe.
— O que é meu amor, me conte, acho que vou adorar saber.
— Jorge antes de te conhecer eu era uma prostitua, aquele dia que nos conhecemos naquele baile, eu só fui para arrumar um marido rico, eu inventei a gravidez, e tudo que você sabe sobre mim,e eu tenho um amante desde que nos casamos.
— O que! Fale-me que tudo que você disse é mentira! -Gritou Jorge
— Eu gostaria, mas não é!
— Eu vou te matar Luísa você vai sair da minha casa agora!- Disse Jorge que estava puxando Luísa, só que ela se soltou, correu e tropicou na escada, rolando os lances e batendo a cabeça no chão.
— Luísa, Meu amor! Fala comigo! -Jorge estava ao lado do corpo da amada que já parecia sem vida, mesmo assim a levou no hospital, estava conversando com Sebastião, seu amigo detetive e perguntou como ele não viu que Jorge estava levando chifres, o amigo respondeu que Luísa era discreta e que nunca percebeu anormalidades.
No quarto, Luísa acordou e parece ter tido uma visão, pois viu Basílio e Juliana lado a lado se beijando.
— O que vocês estão fazendo? -Gritou ela
— Se beijando – respondeu Basílio.
— Foi tudo um plano de vocês? -Pergunta Luísa
— Sim, exatamente tudo, eu voltei de São Paulo, há alguns dias atrás e procurei Basílio contei o meu plano, e pedi ajuda, ele prontamente aceitou depois que falei da recompensa.
— Foi tudo armação de vocês? Agora eu vou morrer e vocês não terão nada ! – Gritou Luísa
— Aquele que roubou a jóia era um amigo nosso Sebastião, e você é previsível sabíamos que você ia contar para Jorge, somos mais espertos que você - Disse Juliana com um sorriso no rosto, esta se aproximou de Luísa, tirou o travesseiro dela e a sufocou, matando-a. Os últimos pensamentos de Luísa eram traição, traída por Basílio, por Sebastião, por todos.
Jorge acabou não aceitando a morte da esposa mesmo com todas as mentiras, tendo tentado se matar inúmeras vezes, hoje ele vive numa clínica psiquiátrica.
— Cherrie! Este vestido está bom? – pergunta Juliana.
— Claro que está, quando você não é linda? - Retruca Basílio.
Os dois estavam se preparando para começar a dar outro golpe, e desta vez eles pensavam alto, quem Juliana seduziria, seria o presidente JK, vamos ficar ricos pensou Basílio.
Certas coisas não mudam, enquanto existirem muitas Luísas e Jorges por aí, sempre vão existir Basílios e Julianas, querendo ser mais espertos.


Autora: Cássia Aline Nunes Afonso
Fonte: Profº. Nilson Caires 

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