Ensinar literatura implica desenvolver habilidades de leitores proficientes, ou seja, cidadãos que tenham habilidades não só de ler, mas de compreender e interpretar os diferentes gêneros e tipologias textuais, escritos em diferentes modalidades da língua.
A atividade de releitura, segundo POSSAMAI e SARDAGNA, 2008, p. 70, é entendida como reprodução/reformulação do sentido dado a um texto/fonte para a produção de um texto derivado.
Nesta postagem você observará uma releitura da obra “O Primo Basílio” de Eça de Queirós.
A atividade foi desenvolvida com os alunos da 2ª série do Ensino Médio “A” no período matutino, sob a orientação da professora Lucivani Cervieri, na disciplina de Língua Portuguesa/Literatura.
Profª. Lucivani Cervieri
O Primo Basílio
Luísa acordou, com o sol cegando-a, jogou o travesseiro na cabeça para cobrir os olhos, mas de nada adiantou. Virou para o lado, olhando a hora no despertador, passava das dez da manhã. Jorge já deve ter ido trabalhar, pensou ela. Luísa era uma mulher linda, cara de anjo, corpo esbelto e um olhar hipnotizador, tinha todos que queria na sua mão, mas enganava-se quem só olhava aquela fachada, era fria e cruel por dentro.
— Joana traga meu café da manhã, imediatamente! - Gritou Luísa.
Joana era a empregada da casa, sofria muito na mão da patroa, mas precisava do emprego para ajudar sua mãe nas despesas de casa, então ficava calada.
—Bom dia Madame! Como passou a noite ? - Perguntou a empregada adentrando o aposento.
— Não é de seu interesse, saber como passei a noite, sirva já meu café! - Bradou Luísa.
A empregada estava lhe servindo o café quando a campainha tocou.
— Vá atender logo essa porcaria, antes que me dê dor de cabeça, Joana.
— Sim senhora.
Quem tocava a campainha era nada mais nada menos que Juliana Maçaneta, uma velha conhecida de Luísa, as duas tiveram praticamente uma história juntas. A empregada atendeu a porta, e deu de cara com Juliana.
— A dona Luísa se encontra? - Pergunta Juliana
— Sim, ela se encontra, espere um momento vou chamá-la. Por favor entre e sente-se. - A empregada falou.- Como é bonita essa mulher ! Mas esqueci de perguntar o nome dela.
—Dona Luísa, há uma senhorita que deseja falar com você. - Disse Joana, batendo na porta do quarto da patroa.
— Como é o nome dela, inútil?- Fala uma Luísa muito brava, por estar sendo interrompida, na hora de se embelezar.
— Ela não falou senhora.
— Como você deixa entrar alguém que você não conhece, e não pergunta o nome? Deixe pra lá, você não serve pra nada, vou lá ver quem é.
Na sala, Juliana observava a casa de sua ex-colega:
_ Essa desgraçada vive muito bem!- Pensou ela.
— Olá!Quem é a senhora? -Perguntou Luísa
— Ora Luísa, não reconhece mais as velhas amigas?- Disse Juliana virando-se para frente.
_Como ela me achou?- Pensou uma Luísa, com muita raiva e medo, do que podia acontecer dali pra frente.
— Você faz parte da alta sociedade, é fácil lhe achar.
— O que você quer Juliana?
— Sempre objetiva você, Luísa não me surpreende você estar tão bem de vida em tão pouco tempo!
— Fale-me logo o que você quer. - Disse uma ríspida jovem senhora.
— Primeiro, olhe como fala comigo, segundo eu que faço as perguntas, terceiro eu quero tudo que é seu ,incluindo seu marido.
— Você acha que é quem, para falar assim comigo e querer tudo que é meu?
—Luísa, Luísa, sei de coisas que fariam as pessoas nunca mais olharem na sua cara.
— Virou chantagista? Está tão velha, que não consegue trabalhar!- Disse Luísa dirigindo um sorriso cínico à sua visita.
— Você vai fazer tudo o que eu mandar senão seu lindo esposo, saberá de seus mais obscuros segredos.
— O que eu tenho, que fazer para você sumir e nunca mais aparecer na minha frente, Maçaneta?
— Que bom que você sabe à hora de abaixar a crista, bom eu quero 350 mil dólares, depois quero seu marido, e tudo que você tem.
— Você tá louca, eu não tenho tudo este dinheiro, e muito menos dólares, e meu marido e minhas coisas você não terá.
— Se você me arranjar o dinheiro, eu sumo daqui, e seu marido nunca vai saber nada de você.
— Está bem, vou arrumar seu dinheiro, mas preciso de tempo. - Disse Luísa sentada no sofá depois de tamanho choque.
— Você terá tempo, mas não especificarei, na hora que eu aparecer, vou querer meu dinheiro. - Disse Juliana se olhando no espelho da sala.
— Era só o que você queria, pode ir agora.
—Sempre doce e agradável você Mademoiselle, vou-me indo, sei que você dará um jeito, até mais ver. - Disse Juliana se dirigindo a porta.
_ O que eu faço agora? Onde vou arrumar tanto dinheiro? Tenho que ir até o Paraíso e falar com Basílio! -Pensou Luísa, que levantou do sofá imediatamente, sem avisar para onde ia. Atrás dela um jovem detetive chamado Sebastião a seguia, a mando de Juliana e também de Jorge esposo de Luísa, ansioso para ver o que aconteceria dali pra frente.
O Paraíso ficava numa área longe da cidade consistia em quartos de cortiço, o lugar perfeito para o encontro de dois amantes, Luísa adentrou o local, abrindo a porta com a sua cópia da chave, encontrando Basílio esticado na cama. Esse traste no mínimo ficou até tarde jogando pôquer pensou Luísa, que já se despia e deitava-se sobre seu amante, que com o contato despertou.
— Queria ser acordado assim todos os dias. - Disse Basílio.
— Querer não é poder. -Disse Luísa com um sorriso travesso no rosto.
— De vez conversarmos podíamos fazer algo mais interessante. - Disse Basílio, mordiscando o pescoço de uma Luísa cada vez mais mole.
— Não vim aqui para isso, preciso conversar com você Basílio, é sério!
—Está bem! O que é?
— Juliana me visitou, e espere eu terminar de falar, ela me chantageou e quer 350 mil dólares, disse Luísa
— O que ela quer com tanto dinheiro, ela acha que na sua testa ta escrito sou uma agência bancária?
— É capaz de ela pensar isso mesmo, mas estou preocupada, onde vou arrumar tanto dinheiro?
— No banco!
— To falando sério, Basílio onde vou conseguir isto e sem chegar aos ouvidos de Jorge?
— Bom você deve frequentar estas festas da alta sociedade, conquiste um velho, e fala para te dar o dinheiro, falou Basílio com uma cara de quem tinha tido uma ideia genial.
— Até que não seria mal, mas ela me disse que pode querer o dinheiro a qualquer momento.
— Nossa tive um plano, vai abrir uma nova joalheria, já que você é conhecida e visite, ouvi falar que lá tem um colar de diamantes, com um diamante azul, que vale uma fortuna.
— Como você sabe disso Basílio?
— Tenho meus contatos, são fontes confiáveis, é só nós armamos um plano bom, que conseguiremos, confie em mim e relaxe. - Disse Basílio fazendo uma massagem em Luísa.
Luísa voltou para casa de noite, menos preocupada com Juliana, graças a sua tarde maravilhosa, e Basílio e seus planos, já estava confiante, que sua vida, iria voltar aos eixos novamente.
Juliana estava num bar, esperando um amigo misterioso, que faria com que seus planos desse certo.
– E então, arranjou tudo como eu queria e pedia? -Disse Juliana
— Está tudo planejado, fique sossegada, logo tudo dará certo para nós, ela vai ter uma grande surpresa, relaxe!- Falou a pessoa misteriosa bebericando um uísque.
Na manhã do dia seguinte, Luísa acordou e passou o braço do outro lado da cama, e estava vazio. Sentia falta de Jorge ,ele era seu sol, a amava absurdamente, fazia com que esquecesse o passado, pena que não era suficiente, precisava de Basílio,ele a fazia cometer loucuras e a levava as alturas.
— Que fome, irei tomar meu desjejum, e depois combinarei, todo o plano com Basílio. - Disse Luísa a si mesma.
Descendo as escadas, notou a casa silêncios.
_Onde será que está Joana, aquela imprestável? Só falta eu que estou com minhas unhas feitas, ter de preparar o desjejum! - Pensou Luísa.
Joana esperava sua patroa, e estava pronta para pedir demissão. - É a decisão certa. - Ela falava para si mesma.
— Joana sua inútil, porque ainda não preparou meu desjejum? Vou descontar do seu salário, ande criatura! Estou faminta! Fale alguma coisa sua imprestável.
— Madame, a partir de hoje, não sou eu que faço o desjejum, não sei quem vai ser, mas eu não serei,estou me demitindo.
— O que! Você não pode fazer isso comigo, e a casa; quem vai limpar as roupas, quem vai passar e lavar e cozinhar?
— Não sei senhora! Só sei que estou indo, até mais ver.
_ Maldita Juliana! Desde que me visitou só me fez ter perdas agora o que vou comer, eu sou uma bonequinha de luxo!- Pensou Luísa contrariada.
Juliana tinha seu plano arquitetado, teria as jóias de Luísa, que eram o marido e o amante, seria o que sempre nasceu para ser, uma Senhora. Já não cabia dentro de si, com tamanha felicidade de ver sua colega se arruinar.
_ A vingança é um prato que se come frio, mas é bom, muito bom.
De tarde Luísa, recebeu uma notícia que a chocou, seu marido que há um mês viajará, voltaria.
_ Logo agora que essas coisas estão acontecendo, que Deus me ajude! - Uma perplexa Luísa pensava.
— O plano é simples, é o dia da inauguração, todos vão estar ocupados, haverá muitas pessoas, será fácil você vai conseguir Luísa.
— Claro! E como vou colocar um colar raro dentro da minha bolsa sem ninguém perceber, Basílio?
—Aí não é comigo, já lhe dei o plano agora o faça, a não ser que você queria que o maridinho descubra nossos beijos, nossas carícias, nossas aventuras, nosso Paraíso. – Disse Basílio, abraçando e mordiscando a orelha dela.
— Pare Basílio! Pare por favor, tenho que ir para casa e pensar.
Jorge não se continha em si, estava ansioso para chegar em casa, ver sua linda esposa e amá-la, mas não foi isso que encontrou, só viu uma casa vazia, sem Luísa, sem empregada, só ele. Devem ter ido a feira e ficaram perdidas no meio de tantas coisas pensava Jorge.
Luísa chegou em casa, viu algumas coisas diferentes. _Deve ser Joana, não deve ter achado um emprego melhor e voltou, mas ela vai ver!- Pensou Luísa. Chegando em seu quarto, viu seu marido, deitado, dormindo como um anjo quase a fez esquecer os problemas, quase.
— Querida, acorde! Porque nosso desjejum não está preparado!- Cadê a Joana? - Disse Jorge.
— Bom dia, Meu amor! Nosso desjejum não está pronto, porque a ingrata da Joana pediu demissão. - Disse Luísa fazendo uma cara de coitada, que faria com que seu esposo contratasse outra empregada.
— Tudo bem, meu anjo! Vamos arrumar outra empregada, se arrume, vamos tomar o desjejum em uma lanchonete. - Disse Jorge beijando a testa da esposa.
Luísa e Jorge passaram um dia perfeito, mataram as saudades um do outro, mataram as saudades um do outro, contaram o que fizeram, claro que Jorge observador como era perguntou à esposa, a razão de estar triste, e está prontamente mentiu.
No dia seguinte, Luísa acordou preocupada, pois tinha que arrumar um meio de sair para falar com Basílio sobre o plano, mas precisava de uma desculpa para dar a Jorge.
Luísa levantou-se e preparou o desjejum, o marido acordou e reparou que a esposa não estava na cama e desceu as escadas,foi na cozinha e viu ela preparando suco, sorriu não poderia ter escolhido esposa melhor pensou ele.
— Querida, o ano de 1950, a década de 50, serão prósperos, você verá, tudo vai melhorar ainda mais, o povo confia em Juscelino Kubitschek eu confio nele.
— Que bom meu amor, que você é assim tão positivista.
— Luísa eu sou realista, olhe o que digo, o Brasil vai melhorar, nós vamos enriquecer mais e tentaremos ter outro filho.
— Que bom amor! Mas agora se alimente.
Luísa deu a desculpa que iria ao cabeleireiro, mas na verdade tomou um táxi e foi encontrar Basílio.
— Então meu anjo preparada para amanhã?
— Não sei, Basílio acho que não vou conseguir, vão acabar me pegando roubando essa jóia.
Luísa voltou para casa convicta que conseguiria executar o plano e salvaria o seu casamento, de noite saiu para jantar com o marido, fora fria com ele, logo percebeu que estava mostrando sua verdadeira face, era melhor assim.
Relojoaria Paris:Avenida Florença, 549 dizia o endereço que cada vez mais pesava na bolsa de Luísa,era um lugar formidável a rua onde se localizava a relojoaria era uma das mais sofisticadas e movimentadas da cidade do Rio de Janeiro.O táxi parou o coração de Luísa congelou,agora era a tão esperada hora.
O salão era imenso, existiam os mais variados tipos de relógios e jóias, só pessoas de classe estavam naquele ambiente. O colar de Diamantes azuis era a peça mais cara daquele lugar, ele seria capaz de calar a boca de Juliana, mas é ai que a dúvida pairava: Ela vai me pedir mais dinheiro. Será que o meu segredo é tão forte que Jorge não suportaria? - Pensava ela.
Luísa estava de cara, com a jóia mais bonita e cara que já havia visto, ficou encantada, tanto que não percebeu que havia chegado alguém ao seu lado.
— Está jóia é a mais cara e a mais bonita igual a senhorita. Disse um senhor.
— Obrigada!
— Não agradeça minha cara é a verdade, que tal combinarmos um encontro, posso lhe dar a jóia.
— Muito obrigada! Mas sou casada. - Falou Luísa mostrando a aliança.
— Desculpe-me pela indiscrição minha bela senhora.
— Não foi nada Sr.
Agora sozinha era hora, fingindo estar olhando o chão, olhou para os lados, que a sorte esteja do meu lado, pensou ela, poderia ter aceitado sair com o Sr, mais vai que ele era igual ela, e estava só atrás de diversão. Pediu ao atendente mostrar-lhe a jóia, quando a pegou na mão sentiu um gostinho de vitória,distraiu o atendente dizendo ter visto a primeira-dama, aproveitou este momento, e substitui os diamantes por pérolas falsas, o atendente disse não ter visto ninguém, Luísa desculpou-se e disse ter se confundido, entregou a caixa com o colar errado, agradeceu o atendente, já sentindo o triunfo, pena que ao sair da loja, foi surpreendia por um bandido.
— Passa a bolsa, Madame, passa logo senão estouro seus miolos.
— Calma, por favor, eu te dou o dinheiro que eu tenho, mas a bolsa não! Você pode levar meu relógio.
— A bolsa, ou você morre, chega madame, fica com o relógio, eu só quero a bolsa.
— Tó, fica com ela então. - Disse Luísa
Agora estava perdida, iria ficar sem o marido, sem a casa, sem os mimos, mas ela tinha uma chance contaria a verdade ao marido.
Chegando em casa Luísa encontrou seu marido na sala, chamou ele para irem para o quarto conversar.
— Jorge preciso lhe contar algumas coisas sobre mim que você não sabe.
— O que é meu amor, me conte, acho que vou adorar saber.
— Jorge antes de te conhecer eu era uma prostitua, aquele dia que nos conhecemos naquele baile, eu só fui para arrumar um marido rico, eu inventei a gravidez, e tudo que você sabe sobre mim,e eu tenho um amante desde que nos casamos.
— O que! Fale-me que tudo que você disse é mentira! -Gritou Jorge
— Eu gostaria, mas não é!
— Eu vou te matar Luísa você vai sair da minha casa agora!- Disse Jorge que estava puxando Luísa, só que ela se soltou, correu e tropicou na escada, rolando os lances e batendo a cabeça no chão.
— Luísa, Meu amor! Fala comigo! -Jorge estava ao lado do corpo da amada que já parecia sem vida, mesmo assim a levou no hospital, estava conversando com Sebastião, seu amigo detetive e perguntou como ele não viu que Jorge estava levando chifres, o amigo respondeu que Luísa era discreta e que nunca percebeu anormalidades.
No quarto, Luísa acordou e parece ter tido uma visão, pois viu Basílio e Juliana lado a lado se beijando.
— O que vocês estão fazendo? -Gritou ela
— Se beijando – respondeu Basílio.
— Foi tudo um plano de vocês? -Pergunta Luísa
— Sim, exatamente tudo, eu voltei de São Paulo, há alguns dias atrás e procurei Basílio contei o meu plano, e pedi ajuda, ele prontamente aceitou depois que falei da recompensa.
— Foi tudo armação de vocês? Agora eu vou morrer e vocês não terão nada ! – Gritou Luísa
— Aquele que roubou a jóia era um amigo nosso Sebastião, e você é previsível sabíamos que você ia contar para Jorge, somos mais espertos que você - Disse Juliana com um sorriso no rosto, esta se aproximou de Luísa, tirou o travesseiro dela e a sufocou, matando-a. Os últimos pensamentos de Luísa eram traição, traída por Basílio, por Sebastião, por todos.
Jorge acabou não aceitando a morte da esposa mesmo com todas as mentiras, tendo tentado se matar inúmeras vezes, hoje ele vive numa clínica psiquiátrica.
— Cherrie! Este vestido está bom? – pergunta Juliana.
— Claro que está, quando você não é linda? - Retruca Basílio.
Os dois estavam se preparando para começar a dar outro golpe, e desta vez eles pensavam alto, quem Juliana seduziria, seria o presidente JK, vamos ficar ricos pensou Basílio.
Certas coisas não mudam, enquanto existirem muitas Luísas e Jorges por aí, sempre vão existir Basílios e Julianas, querendo ser mais espertos. Autora: Cássia Aline Nunes Afonso |
Fonte: Profº. Nilson Caires
Nenhum comentário:
Postar um comentário